quarta-feira, 1 de fevereiro de 2006

Carreira 28

Já tem um ano e meio esta série de fotos que tirei numa jornada fotográfica com o meu cunhado pela Carreira do Eléctrico 28.

Trabalho num local de passagem desta carreira e ela sempre me fascinou, não só pela nostalgia do eléctrico, mas, principalmente, porque percorrer a Carreira desde os Prazeres até ao Martim Moniz é, de alguma forma, percorrer a síntese de uma cidade que parece viver anacronicamente.

É este anacronismo de uma cidade que quer ser grande, mas que nunca dexará de ser pequena o grande encanto da Carreira. Por um lado a mesma tecnologia que no início do século transportou milhares de operários, jardineiros, governantas e mordomos, espelhado nas roupas que ainda se estendem na janela da frente, nas frutas e legumes que se ostentam na Mercearia do Sr. Alfredo, no amolador que calcorreia a cidade com a sua pedra movida à força de um pé que conhece cada pedra da calçada pisada, nos característicos marcos do correio vermelhos que ainda hoje recebem no seu interior as cartas de amor escondidas numa caixa. Por outro são os carros apressados empatados pela lentidão da carruagem, as pessoas que precisam de chegar a horas à porta do Colégio do menino, os jovens que falam da internet, computadores e Playstation.

No meio de tudo isto, misturam-se fascinados pelo bucolismo do ambiente os turistas que, sem saber porquê, se deixam encantar por um lugar onde ainda se pode ir a uma tasca beber uma taça de tinto, onde ainda é possível ver amoladores de rua, onde ainda se vê casas de porta aberta à espera da vizinha de baixo a pedir um pouco de azeite que deixou acabar.

Às vezes penso como gostaria de viver numa outra cidade, mais cosmopolita, moderna, capaz de nos dar o conforto de um mundo evoluído. Mas outras vezes, é precisamente a inexistência de todas essas coisas que me faz amar cada vez mais esta cidade.

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