quinta-feira, 23 de dezembro de 2004

Governo panfletário

Hoje o Santanete-Mór escreve isto a defender o panfleto do Orçamento. Perguntas estúpidas ao Santanete-Mór (precisamos de nos fazer entender num diálogo):
1. gratuita quer dizer que está incluído nos 3.000 € que eu paguei ou nos 500 € que vem dos bolsos de um ilustre desconhecido?
2. expedito significa que se faz propaganda planfletária sem ser acusado de uso indevido de dinheiros públicos? (lembram-se de Edite Estrela?)
Só hoje tive oportunidade de ver o tal panfleto. Quando vejo aquelas fotografias lembro-me de um sketch do MAD TV chamado Lowered Expectations: o pôr do Sol, um casal de obesos a caminhar de mãos dadas em contra-luz e, por fim, o homem a picar-se no arame farpado. O que nos vale é que, parafraseando Eça nas suas Farpas, temos o Santanete-Mór como um dos mais poderosos homens da comunicação social e rimos, o Governo Governa e não gere como seria suposto e rimos, a oposição é triste e rimos. Um dia Portugal vem abaixo e nós, como não podia deixar de ser, rimos.
Continuemos a rir, porque rir é o melhor remédio.

Gestão? Qual Gestão?

Dei-me ao trabalho de consultar um diário português o DN e procurar as notícias referentes à acção governativa deste Executivo. Fiquei-me pelo DN e só pelos últimos três dias (o tempo não dá para mais e lanço aqui o repto para que outros o façam, seria interessante). Antes da lista uma pergunta, já que não tenho nenhuma formação jurídica. Alguém me explica quais são os limites de um Governo de Gestão? É que, sinceramente, este parece estar em plenas funções.

A lista, por ordem cronológica decrescente:
23.12.04
Fundo de Pensões da CGD e lucros da Galp
Para enganar a Europa e a nós.

Vencedores de Loures conhecidos até dia 15
A decisão sobre quais os consórcios que passarão à fase final do concurso para a construção do Hospital de Loures será tomada dia 15.01.05.

Inglês vai ser obrigatório a partir dos oito anos
Parece que a medida é consensual entre PS e PSD, mas a verdade é que a medida "está já a ser estudada pelo actual Executivo".

700 mil euros para projectos em Braga
"O secretário de Estado da Administração local, José Cesário, deixou ontem, no distrito de Braga, uma comparticipação de 690.452 euros, no âmbito de 19[!!!!] contratos-programa de financiamento de equipamentos..."

22.12.04
Funerárias temem fim de três mil postos de trabalho
Uma alteração legislaliva aprovada em Conselho de Ministros.

Acordo de 41 milhões de euros entre Portugal e São Tomé
Assinatura de um programa de cooperação para os próximos três anos no valor de 41 milhões de euros.

21.12.04
Contratualização do serviço publico avança em 2005
"O Governo espera ter o diploma sobre as obrigações de serviço público de transportes em aprovação no início do próximo ano..."

Novo Hospital de Braga estará concluído em 2009
Lançamento do concurso internacional para o novo hospital de Braga.

Carta imaginária

Há muito tempo que não enviamos uma carta um ao outro. Quebro a regra recentemente estabelecida. Gosto, de quando em quando, de quebrar com as rotinas.
Pensei, primeiro, escrever-te com o pretexto de uma mensagem de Natal. Mas confesso que as mensagens de Natal me incomodam, são sempre a mesma conversa de circunstância, com frases feitas e nada originais e que, tantas e tantas vezes, não são o espelho de um sincero sentimento, antes uma espécie de “Maria vai com as outras” faladas ou escritas. Postais de Natal também não podia ser, enquadram-se na mesmíssima moda de dizer que todos estamos bem uns com os outros.
Sim, é verdade que se poderia a proveitar o momento. Não creio, no entanto, que esse aproveitamento possa ser capaz de produzir genuínas alterações de espírito. São mais o reafirmar de uma hipocrisia geralmente sentida e consentida.
Por isso não te escrevo para enviar mensagem de Natal. Não me ouvirás dizer “Santo Natal e Próspero Ano Novo para ti e todos os teus” ou “Que o melhor de 2004 seja o pior de 2005”. Escrevo apenas para te escrever. Supro assim uma falta grave no meu espírito, escrever aos amigos com profundo e sentido estado de alma que me impele para os que me amam. É quase um impulso que não consigo conter. De vez em quando ele aparece e não descanso enquanto o não fizer.
Amar é, também, dizer presente. Que melhor maneira de dizer presente que umas quantas frases desgarradas de sentido óbvio? Não conheço nenhuma outra, com excepção de todas as outras. Talvez um telefonema, uma moderníssima MMS ou a antiquíssima SMS (ainda estou para descobrir o significado de ambas as siglas - será que importa?), um café e/ou um passeio com o pretexto da prenda, um jantar num qualquer restaurante oriental onde podemos saborear aquele fantástico “sumo nananja chinês” ou um “Pato à Pequim” que de Pequim só mesmo o nome (talvez do pato também, mas também não quero saber) ou um simples encontro no adro da Igreja para uma saudável troca de olhares cúmplices, mas não muito. Tudo para uma conversa de circunstância “Estás bom(boa)?” ou, à brasileira, “Tudo bem contigo?”, “A família?”, “Então adeus! Santo Natal e Bom Ano Novo!”.
Quero muito mais que isso, e o muito mais que isso solta-se num voar de dedos pelas teclas de um qualquer teclado onde quer que ele esteja. Aqui, na China, no Japão, nos Estados Unidos da América do Norte, na Índia, no Cazaquistão a solidão combate-se conversando com o eternamente ouvinte e sempre calado teclado. Depois esperamos que um vírus se abata sobre nós, que não haja qualquer cura já encontrada nos médico-programas, e tudo se vá tal como veio – depressa. Sempre é melhor sorte para um ficheiro que o delete, muito mais voluntário, logo terrivelmente assustador para a consciência bem formada que possuimos. Este sentimento estranho de querermos o que não queremos, de nos dedicarmos horas a fio a uma escrita cuja sorte está ao acaso de uma tecla – o delete – é estranha. Acontece recorrentemente e nada há que possamos fazer. Pergunto-me como fariam os antigos. Atirariam o papiro ao fogo dos deuses? Raspariam o pergaminho para que pudesse ser usado novamente em qualquer outra carta bem mais importante? Ou simplesmente não viviam sós, mortinhos por afogar a penosa solidão numa qualquer carta? Não tenho resposta ou não a quero encontrar.
Concluo: somos sós acompanhados por uma multidão. Contradição absoluta, mas paradoxalmente verdadeira. Perdemos a capacidade de conversar uns com os outros. E os outros passam por nós, vivem em nós e depois desaparecem por circunstâncias que não controlamos e que, vá-se lá saber porquê, existem. Porque existem os esposos? Porque existe a noção de espaço e tempo? Porque sentimos o espaço como o mais grave impedimento? Porque existe tempo e o olhamos como algo que acaba instataneamente? Existem porque existem, nada posso fazer. Excepto escrever-te, a ti, amigo que já foste.

P.S.: Santo Natal e que o melhor de 2004 seja o pior de 2005.

terça-feira, 21 de dezembro de 2004

"Nevoeiro"

Pessoa_2

Tenho andado a trabalhar sobre as obras de Pessoa. Quero constituir uma colecção completa das suas obras para posterior publicação em Catálogo. Não posso deixar de partilhar a (re)leitura de Mensagem. Que texto mais apropriado para o momento político que vivemos senão este?

"Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer -
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fátuo encerra.

Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és Nevoeiro...

É a Hora!"

in Mensagem, Lisboa, Edições Ática, 1963, p. 104

quinta-feira, 16 de dezembro de 2004

Os portugueses vistos por Pessoa

Pessoa
Eis um belíssimo retrato de nós próprios. É pena que em Portugal haja pouca gente com esta capacidade de se analisar a si próprio antes de olhar para os outros, não admira que Pessoa tenha sido, na verdade, um estrangeiro no seu próprio país.

"Porque o facto significativo acerca dos portugueses é que eles são o povo mais civilizado da Europa. Eles nascem civilizados porque nascem aceitadores de tudo. Neles nada há do que os antigos psiquiatras costumavam chamar misoneísmo, o que significa apenas ódio às coisas novas; gostam francamente de mudar e do que é novo. Não possuem elementos estáveis, como os franceses, que só fazem revoluções para exportação.
Os portugueses estão sempre a fazer revoluções. Quando um português se vai deitar faz uma revolução porque o português que acorda na manhã seguinte é diferente. É precisamente um dia mais velho, um dia mais velho sem dúvida nenhuma. Outros povos acordam todas as manhãs no dia de ontem; o amanhã está sempre a vários anos de distância. Mas não esta tão estranha gente. Move-se tão rapidamente que deixa tudo por fazer, incluindo ir depressa. Não há nada menos ocioso que um português. A
única parte ociosa do país é a que trabalha. Daí a sua falta de evidente progresso."
Álvaro de Campos, Fragmentos in LANCASTRE, Maria José de, Fernando Pessoa Uma Fotobiografia, p.33

segunda-feira, 8 de novembro de 2004

Bibliofilias

Nas minhas deambulações pelas enormes livrarias de Madrid, principalmente uma chamada Casa del Libro (que inveja), encontrei este livro:
baez
Fernando Báez, Historia Universal de la Destrucción del Libro: de las tablillas sumerias a la guerra de Irak, Barcelona, Destino, 2004.
É curioso que o livro comece e acabe exactamente no mesmo lugar. A destruição de livros é, afinal, a destruição de um pedaço da nossa herança cultural e, portanto, a de um pedaço de nós.
Felizmente faço parte daqueles cuja profissão tenta fazer exactamente o contrário. É privilégio que não consigo contabilizar. Pela minha curtíssima experiência de 10 anos na livraria de meu Pai são incontáveis os exemplares que já se completaram, os livros que se retiraram da morte certa tanto por incúria dos seus proprietários como por vontade da natureza.
Talvez seja esse o maior legado de todos os livreiros alfarrabistas.

De Regresso

Puerta_del_Sol_Madrid1
Estou de regresso de Madrid... Que pena.

quarta-feira, 27 de outubro de 2004

Trabalho a quanto obrigas

Trabalho a quanto obrigas.
"Quero agora aqui anunciar, se faz favor, que isto aqui" do trabalho, "é uma cambada de gatunos" de tempo.
Estou impossiilitado. Prometo regressar assim que me levarem tudo.

sexta-feira, 22 de outubro de 2004

A Origem do (des)Governo de Santana

zepovinho

Muito se tem falado da péssima prestação deste Governo de Pedro Santana Lopes. Não tenciono pôr em causa as críticas que, justamente diga-se, têm sido postas a lume àquilo que parece estar a tornar-se num incêndio de proporções ainda maiores que a catástrofe que nos levou as florestas. Pedro Santana Lopes é um péssimo cidadão, um péssimo político e um convencido dos três costados com traços de uma realeza que já não existe. A gestão danosa que fez do município de Lisboa (quem lá vive e/ou trabalha compreende o que quero dizer), a gestão da sua imagem como a coisa mais importante da carreira política e a comunicação ao país com a foto da família e do beijo ao anel do Santo Padre demonstram-no sem qualquer margem para dúvidas. Pior ainda, consegue transformar pessoas competentes como Morais Sarmento numa triste falta de habilidade política.
Mas em toda esta discussão não tenho visto ninguém comentar a verdadeira causa do descalabro em que este país se encontra. Gostaria de lembrar o passado recente (não, não é o PS que aí vem): Durão Barroso.
Talvez seja oportuno lembrar que:
1. Durão Barroso tudo fez para que não houvesse eleições antecipadas;
2. Durão Barroso escolheu Pedro Santana Lopes para o suceder, quebrando laços de solidariedade óbvios, o mais evidente com Manuela Ferreira Leite.
3. Durão Barroso conhecendo Pedro Santana Lopes, sabendo muito bem que é mais vaidoso que político, que o seu propósito é o seu exclusivo interesse, que se não fosse Primeiro Ministro, até era capaz de estar hoje na Quinta das Celebridades (relembro o triste programa da SIC em que participou fazendo-se passar por Primeiro Ministro - mostrou-se um belíssimo treino), podia, com facilidade, ter feito uma previsão do que iria acontecer a este pequeno (não só do ponto de vista geográfico) país.
Daqui decorre que Durão Barroso não pensou em Portugal quando aceitou o cargo europeu. Se o tivesse feito, teria ficado como era sua obrigação. Aliás, convém também relembrar que outros não aceitaram o cargo exactamente por essas razões. Durão Barroso disfarçou o seu interesse pelo país transformando a sua sucessão numa novela sem sentido, quando ela já estava mais que decidida (Sampaio não escapa aqui a algumas responsabilidades). Durão Barroso pensou em si e na ambição (legítima, claro, mas já não tão legítima se a qualquer preço) de altos vôos no teatro internacional.
Eu até o compreendo, porque viver num país como este só dá mesmo vontade de emigrar o quanto antes. E acredito que depois de ter de lidar com verdadeiros energúmenos ao mais alto nível, tenha crescido essa vontade inata de querer partir com a "Valise de Carton”. Eu partiria sem hesitar um só segundo.
Mas Durão Barroso era um alto dirigente com responsabilidades, com compromissos assumidos perante o seu país e em vez de os assumir até ao fim, deixou-nos um bando de incompetentes intratáveis, um deles passeando-se com umas quantas musas da comunicação qual Don Juan.
Durão Barroso é um político hábil, inteligente e firme, qualidades que a Europa talvez necessite. No entanto, esqueceu-se de nós, abandonou-nos num momento difícil.
Não é de todo sustentável que Durão Barroso possa ser responsabilizado pelas más, ou deverei dizer péssimas, decisões políticas deste governo. Essas são da exclusiva responsabilidade dos seus intervenientes. Mas já o é quando pensamos que tudo isto poderia ter sido evitado se o interesse nacional estivesse verdadeiramente em primeiro plano como é pedido a um líder de um partido com vocação de poder e, mais ainda, a um Primeiro Ministro eleito e em exercício.
Foi Portugal quem saiu prejudicado com o negócio. Só para não variar é sempre o Zé Povinho que sofre...

Mais do mesmo

Soros


É livro que vai para a prateleira com a mesma velocidade que entrou. É mais do mesmo. Ele é filmes, ele é livros, ele é tudo e mais alguma coisa para dizer o que já sabemos: Bush não pode ser reeleito...
Mas provavelmente vai!!!

quinta-feira, 21 de outubro de 2004

Serviço Público de Televisão


Não sou perito em comunicação, bem longe disso. No entanto atrever-me-ei, a propósito das declarações de Morais Sarmento, a fazer alguns comentários do ponto de vista de um simples espectador sobre esta polémica.
Em primeiro lugar, que significa "serviço público de televisão"?
1. Quererá dizer que se devem apresentar programas exclusivamente de índole cultural, informativa e formativa?
2.Quererá dizer que cabe na programação, além dos já referidos, programas de entretenimento, devendo apenas ser doseados no tempo de acordo com as necessidades formativas e/ou informativas do momento?
3.Quererá dizer que a RTP terá de passar todo o tipo de programas - entretenimento, formação, informação, etc. - para agradar a "gregos e troianos"?
4.Ou quererá simplesmente dizer que a RTP deve passar o tipo de programação que agrada à maioria da população?
Tenho para mim que agradar a "gregos e troianos" é impossível. Logo, serviço público não é passar todo o tipo de programas, simplesmente porque não é possível. Também considero que o povo simples não merece que o "serviço público" passe exclusivamente por uns quantos intelectuais, professores, políticos e jornalistas. Portanto, a primeira hipótese também pode ser excluída. A quarta hipótese parece-me muito mais de acordo com as leis do mercado e a segunda a mais "politicamente correcta".
Eu não entendo que a RTP, simplesmente por ser de capitais públicos, não possa ser uma espécie de empresa privada que se submeta às leis do mercado. A única condição é que respeite as regras da concorrência livre e justa. No caso de se assumir esta posição as declarações de Morais Sarmento não teriam qualquer cabimento e seriam absolutamente condenáveis por definição.
Mas parece-me evidente que o modelo definido para a RTP não é o de mercado, mas sim o de um serviço que o Estado presta aos cidadãos. Estes, por sua vez, pagam esse serviço através dos seus impostos, o que me parece uma tremenda injustiça, em tudo semelhante ao caso da educação. É que haverão muitos cidadãos a pagar por um serviço que não usam e, pior, que não querem. Como exemplo, perguntem a José Pacheco Pereira se quer pagar para ver um jogo de futebol? E, no entanto, esse jogo pode, com facilidade, ser considerado serviço público.
Voltemos à prestação de serviços pela RTP. Assumindo esse modelo, de facto, o Ministro Morais Sarmento tem toda a legitimidade para fazer as afirmações que fez. É que, parece-me, a definição de "serviço público", de tão volátil que é, tem de ser assumida pelos responsáveis da tutela pois a sociedade não é, por princípio, consensual, devendo aquela [a tutela] assumir as responsabilidades das suas decisões.
Daqui podemos concluir que, assumindo este modelo, a RTP mudará de rumo a cada eleição legislativa, a cada novo governo ou a cada novo ministro. E não me parece ser este o melhor caminho. Será apenas um adiar constante, de discussão em discussão, sem se encontrar nenhuma solução definitiva.
Em suma, ou estamos prontos a assumir a responsabilidade política de tal modelo para a RTP, com todos os custos económicos e políticos que isso representa, incluindo o facto de o Ministro da tutela afirmar que é ele quem manda na programação da RTP (não querendo com isto dizer que a pluralidade da informação possa ser posta em causa), quanto mais não seja pela nomeação dos responsáveis da empresa, ou partimos para a única solução que me parece coerente - a privatização.

P.S.: Ainda a propósito das declarações do Ministro Morais Sarmento, como muito bem afirma JMF, o problema não está nas afirmações em si, mas no contexto político em que as fez. Revelou uma tremenda falta de oportunidade que não lhe conhecia. Tenho Morais Sarmento como pessoa competente (a RTP demonstra-o), mas parece que o síndroma "Gomes da Silva" está a alastrar-se por todo o Governo, fazendo com que todos os outros andem "encostados à parede" para que não reparem neles.

"Pobre País" segundo JPP

A não perder o historial de Pobre País por José Pacheco Pereira no seu Abrupto. É revelador do estado deste POBRE PAÍS.

quarta-feira, 20 de outubro de 2004

Bibliofilias II

carter
Um verdadeiro clássico da bibliofilia que faltava na minha colecção, oferecido pelo meu caro amigo Lourenço Lancastre de Sousa, gerente da livraria Supico & Sousa na Rua do Século, Lisboa.
Existe semelhante em Portugal. Dicionário Técnico dos Termos Alfarrabísticos por Paulo Gaspar Ferreira, pela In-Libris. Paulo Ferreira é filho de um dos maiores livreiros portugueses, Manuel Ferreira, que publica catálogos regularmente.

Bibliofilias

Está para breve a saída do prelo do meu primeiro catálogo como livreiro alfarrabista. Disponibilizarei uma versão electrónica assim como enviarei o catálogo por correio a quem desejar.
É a minha estreia independente neste belo mundo da Bibliofilia.

OUTRAS NOTÍCIAS
VIII Salón del Livro Antiguo em Madrid, de 2 a 6 de Novembro no Hotel Reina Vitocria, Plaza de Santa Ana, 4, com a presença de livreiro português - Pedro Castro e Silva. Estarei por lá nesses dias.

Pedro de Azevedo tem Leilão de livros para breve, assim como Luís Burnay e o Palácio do Correio Velho.

Os Jovens

Hoje no Público vem esta pequena história sobre dois jovens que se dedicaram a esclarecer outros sobre o processo eleitoral do seu país.
É comum afirmar-se que os jovens não se interessam por estas coisas. De facto, pelo menos em Portugal, parece-me evidente que o desinteresse é geral, mas não se fica pelos jovens, vai muito mais longe nas faixas etárias.
Felizmente faço parte de um grupo paroquial, de jovens, que se dedica a olhar para o mundo nas facetas que mais interessam a cada um. Todas as 5.as feiras encontramo-nos e discutimos um problema, um facto, um acontecimento, procurando inspiração nos Evangelhos e na Santa Igreja. Não sei se estamos sozinhos. Espero que não, porque o mundo precisa de jovens interessados no que os rodeia para que, num futuro próximo, possam viver num paraíso já aqui na Terra.
Independentemente da posição política que tenham, quer os jovens americanos, quer os "meus miúdos", como carinhosamente os chamo, são um exemplo que merece uma referência e uma palavra de apreço. A felicidade apodera-se do meu espírito quando penso neles.

Dedicado à Ana Cristina, à Rita, à Susana, ao , ao Tó Zé e ao Vasco. Muito obrigado por se terem intrometido no meu caminho.

Blagues de Esquerda contra Bush

Não, não sou adepto de Bush. Se fosse americano (cruzes, canhoto), votaria Kerry. Devo, no entanto salientar o seguinte: não vai ser Bush a dar a vitória a Bush, vai ser Kerry a dar a vitória a Bush. Será que não existe nenhum gabinete de comunicação de Kerry que comunique (é, afinal, a sua principal função) aos "anti-bush" que só estão a ajudar Bush a ser reeleito?
Tanta tentativa muito pouco acreditada de desacreditar Bush, só vai resultar num descrédito em todas as outras afirmações. Logo, à reeleição de Bush, precisamente o que não se quer (vd. no Blasfémias alguns episódios).
Parece que já descobri onde o nosso PM descobriu as maravilhosas técnicas de comunicação que este Governo usa...

Algo vai mal neste Portugal

Estou adoentado. Sentei-me no sofá, com as pernas embrulhadas numa manta. Só me faltava mesmo o tricot... Jantei, liguei na SporTV para ver o Real Madrid. Pelo meio ía fazendo umas incursões pelo comando à procura dos canais costumeiros. Sic Comédia (novo), Sic Radical (pelas séries de culto – Galáctica, Seinfeld, etc.), História, e os de notícias, nomeadamente o nosso, o Sic Notícias.
Parei no último. Estava a dar o costumeiro debate “esquerda/direita” (um pequeno parêntisis – aquele debate na RTP1 foi assustador e JPP tem razão no artigo que escreve no Público; o mais assustador é que todos contribuem para essa discussão, Sic Notícias não é excepção; quanto mais confuso estiver o povo, melhor). As figuras: Jorge Coelho e Manuel Monteiro. Quando liguei estava no fim. O tema: [ainda] Marcelo Rebelo de Sousa e as pressões (vd. Onde estão as perguntas? de JPP).
Teria sido bom que todos tivessem ouvido a história de Manuel Monteiro sobre as pressões. Ele afirmou, peremptoriamente, que foi impedido pelo partido do Governo de participar num debate para o qual tinha sido convidado, o primeiro de todos na Antena1, nas últimas eleições Europeias.
Eu não costumo dar muito crédito ao Dr. Manuel Monteiro, mas o que ele contou é mais grave que o caso Marcelo.
Marcelo Rebelo de Sousa é um comentador, Manuel Monteiro representa um partido político. Quer se goste ou não, tem o direito constitucional de dar a conhecer as suas propostas aos eleitores em absoluta igualdade com todos os outros. E quanto a mim o caso é mais grave que o de Marcelo pois, numas eleições, os prejudicados são os eleitores que necessitam do maior número de informações possíveis a fim de tomarem, em consciência, a sua decisão de voto. E nos dois casos que Manuel Monteiro trouxe à praça pública, as entidades envolvidas foram a RTP e a RDP! Que raio de serviço público é este que impede um Partido Político de participar num debate onde estão todos os outros representados?
Algo vai mal, neste Portugal.

Futebolices

Perdoem-me os fanáticos adeptos do Benfica.

Gosto de futebol, repito, de FUTEBOL. Isto é, gosto de ver aquele conjunto de homens a lutar pela posse de uma bola de “catchú”, tratando-a como se da sua amante se tratasse, passando-a pelos adversários num bailado ritmado e atirando-a com mestria e destreza ultrapassando a última das defesas.
Gosto muito do meu clube do coração. Amo o Benfica, e é com muita paixão e sofrimento que vejo os jogos do meu clube. Lembro com saudade os tempos de Magnusson, Thern, Mozer, Ricardo, Veloso, Diamantino, Chalana, Humberto Coelho e Néné, o sempre em pé (não me lembro de lhe ver uma mancha nos calções).
Era novo, muito novo...
Muitos dizem que amam o seu clube. Bom, eu também, e julgo que da maneira mais apaixonada que pode haver. Amo com a força da razão. Amar alguém ou alguma coisa (se tal fosse possível), não é, simplesmente, sentir aquela paixão ardente que nos consome, é usar a força de um coração que bate forte, com o uso de uma razão que a sustenta.
Pois bem, eu vi o Benfica-Porto. Sim, é golo. Aliás, é um frango à Ricardo que alguns tentam esconder. Mas, sinceramente, não foi só isso que eu vi. O que eu vi foi o Porto a dominar a primeira parte, a jogar a seu belo prazer e a fazer daquela equipa o que lhe apetecia. Aproveitou um mau atraso do Fyssas (ou deverei dizer Fossas) e marcou um golo muito bonito. E na segunda, meus senhores, o que eu vi foi um Porto “à Mourinho”, frio, à espera, dando a sensação de vantagem a uma equipa que, atabalhoadamente procurava o golo sem saber muito bem como.
Talvez não merecessemos perder, não questiono, mas do que vi, também não fizemos nada para ganhar.
E o que me entristece mais é que temos um lote de jogadores que não são maus de todo, mas que, em momentos cruciais, tremem que nem varas verdes. De que serve o talento se não for acompanhado de cérebro? Simão é o melhor exemplo de todos. Capaz de momentos de verdadeiro talento, de verdadeira “arte futebolística”, quando chegam os jogos em que mais se precisa dele... PUFF! É um ar que se lhe deu. Nuno Gomes? Bom, já nem aquilo que fazia bem – segurar a bola e passá-la com mestria – é capaz. Ficou muito melhor o Benfica depois de ter sido expulso (muito bem expulso, diga-se). Petit, talvez cansado do jogo de 4.a feira, não foi o costumeiro “pau para toda a recuperação”, e Manuel Fernandes, talvez muito verde para estes embates, foi uma sombra do que já demonstrou poder fazer.
Enfim, o Benfica que eu vi não mereceu ganhar. E não se esqueçam, eu gosto de FUTEBOL, não dos árbitros e/ou dirigentes.
E com tudo isto, uma cortina de fumo se levantou. É que, meus senhores, está aí o Orçamento de Estado. Talvez JPP tenha razão, fala-se demais sobre futebol neste país...

terça-feira, 19 de outubro de 2004

Durmo, logo pago!

Um último comentário antes de me ir deitar e dedicar à leitura durante as próximas horas (sou fanático pela leitura na cama).

Um destes dias ainda vejo o fiscal das finanças a entrar-me pela casa adentro inspeccionando quantas horas durmo e se as declaro.
Por enquanto é só nos hóteis...
Até ver!

P.S. Obrigado à blogosfera! É indiscutivelmente um belíssimo meio para que nada nos passe ao lado. No caso ao Blasfémias. Um grande bem haja para todos, anónimos ou não.

"Alfarrabices"

Olho para a estante e reencontro-me com Ruben Borba de Moraes, indiscutivelmente um dos maiores bibliófilos do mundo. O Bibliófilo Aprendiz. Um livro delicioso, cheio de pequenas histórias que nos mostram com simplicidade este mundo, tantas vezes considerado obscuro e acessível só a poucos, onde o único Rei, a única lei, o único deus, é o LIVRO. Mas não um livro qualquer, é o livro que se colecciona, o livro que mostrou pela primeira vez ao mundo a poesia de Pessoa ou os monstros de lugares longínquos e quase inacessíveis, aquele que pertenceu a determinado coleccionador como Graulier ou D.Manuel II ou onde Camilo Castelo Branco deixou as suas sarcásticas notas.
Cresci por entre os livros. Meu Pai é alfarrabista de profissão, eu sigo atrás dele. A princípio com reservas. O comércio não era para mim. Agora com paixão.
Por isso, sempre que puder, deixarei aqui gravadas algumas notas sobre livros, pessoas, curiosidades e outros assuntos relacionados com o prazer de coleccionar. Sobre esse prazer, sobre esse encanto que são os livros antigos, não posso ser eu a falar. Deus não me deu o talento para o fazer como eles, os livros, merecem. Deixo-o para quem sabe. Aqui vão três pequenos textos sobre a leitura, o livro e os bibliófilos.

"Não há talvez dias da nossa infância que tenhamos tão intensamente vivido como aqueles que julgámos passar sem tê-los vivido, aqueles que passámos com um livro preferido. Tudo quanto, ao que parecia, os enchia para os outros, e que afastávamos como um obstáculo vulgar a um prazer divino: a brincadeira para a qual um amigo nos vinha buscar na passagem mais interessante, a abelha ou o raio de sol incomodativos que nos obrigavam a erguer os olhos da página ou a mudar de lugar, as provisões para o lanche que nos obrigavam a levar e que deixávamos ao nosso lado no banco, sem lhes tocar, enquanto, sobre a nossa cabeça, o sol diminuía de intensidade no séu azul, o jantar que motivara o regresso a casa e durante o qual só pensávamos em nos levantarmos da mesa para acabar, imediatamente a seguir, o capítulo interrompido, tudo isto, que a leitura nos devia ter impedido de perceber como algo mais do que a falta de oportunidade, ela pelo contrário gravava em nós uma recordação de tal modo doce que, se ainda hoje nos acontece folhear esses livros de outrora, é apenas como sendo os únicos calendários que guardámos dos dias passados, e com a esperança de ver reflectidas nas suas páginas as casas e os lagos que já não existem”
O Prazer da Leitura, Marcel Proust.


"Falar de livros é a melhor das prosas."
O Bibliófilo Aprendiz, O Biliófilo Aprendiz

"Conheci Lucas Corso quando me veio visitar com O Vinho de Anjou debaixo do braço. Corso era um mercenário da bibliofilia, um caçador de livros por conta alheia. Isso inclui as mãos sujas e o verbo fácil, bons reflexos, paciência e muita sorte. Também uma memória prodigiosa, capaz de se lembrar em que recanto poeirento de um alfarrabista dorme esse exemplar pelo qual pagam uma fortuna."

O Clube Dumas, Artur Pérez-Reverte


sábado, 16 de outubro de 2004

Vontade de Emigrar

«Fui tratada pelo meu partido como uma ilustre desconhecida. Ninguém me conhece na minha secção, fui riscada dos cadernos eleitorais e, agora, não posso votar nem ser eleita». EXPRESSO, 16.10.2004

Fico triste e com vontade de emigrar por ver o PSD correr com os seus melhores quadros. Afinal é só Portugal quem perde... Nunca concordei com as políticas de Manuela Ferreira Leite. Mas acredito que, tal como no PS, é bom não dispensar quem de melhor tem a política nacional. Afinal, quer se concorde ou não, quer se pertença à mesma família política ou não, só a excelência pode levar este pobre país a algum lado.

Má qualidade na Democracia

Marques Mendes diz que “há perda de qualidade na democracia”. Com um amigo falava, há pouco tempo, na forma como a sociedade olha para os políticos. Comentámos esta coisa estranha que é a necessidade de os políticos se aproximarem do povo, daquilo que, demagogicamente se chama de “país real”. Lembrámos os gregos, cultura onde os políticos eram admirados, respeitados e ouvidos precisamente porque eram mais cultos e mais inteligentes que a população geral, e não tinham receio de assumir e demonstrar isso. Relembro, para os esquecidos, que nos tempos de uma Secretaria de Estado que queria ser Ministério e que nunca o foi (o Primeiro Ministro na época lá teria as suas razões) se afirmou que Chopin tinha composto Concertos para Violino. Pois, é esse mesmo senhor que é agora Primeiro Ministro.

Fundamentalistas de Esquerda

Curioso chamar Butiglione "fundamentalista religioso” que tende a impor os seus valores religiosos a todos por via de lei.
É estranho que os religiosos assumidos sejam fundamentalistas e os demagogos de uma esquerda serôdia que já não devia existir não. Fico contente por não pertencer a essa “esquerda”. Haja Deus.

Regresso não anunciado

Retorno aos blogs picado por uma grande abelha chamada “Blogosfera” que José Pacheco Pereira introduziu no meu quotidiano. Esperemos que seja desta.
A blogosfera é, de facto, um espaço privilegiado de opinião. Existe para contrariar os que querem silenciar um direito fundamental de qualquer cidadão num estado democrático. Por mais que alguns digam o contrário, a sua simples existência demonstra-o. E a verdade é que ninguém passa sem ela, nem mesmo aqueles que num programa de rádio (Pessoal & Transmissível, TSF) afirmavam lerem todos os livros que lhe chegavam semanalmente para comentar num espaço que já deixou de o ser. Deve dizer-se que esse Sr., de seu nome próprio Marcelo, atira nesse programa um blague contra JPP dizendo qualquer coisa do género, as horas que JPP passa a navegar na internet eu passo a ler, como se JPP pertencesse àquela lamentavel estatística dos iliterados. O seu blog, as suas crónicas, os seus comentários mostram o contrário. JPP é do melhor que temos em Portugal (sou insuspeito, não faço parte do seu espectro político).

quarta-feira, 1 de setembro de 2004

A Maior Dor Humana

Nada mais oportuno. Chegou o "Barco do Aborto" ao largo da costa portuguesa. O Governo impediu-o de atracar nos portos nacionais sob razões que, sob o ponto de vista jurídico não faço ideia se válidas. Também não interessa.
Camilo Castelo Branco deu o título de "A Maior Dor Humana" a um soneto dedicado ao seu inimigo de estimação Teófilo Braga, depois de este ter perdido a sua filha. Camilo nunca foi grande poeta, mas apesar do mau feitio era um homem sensível, e este é, talvez, o melhor poema que alguma vez escreveu.
Sei o que sentiu quando vi o sangue que jorrava por onde deveria sair o meu filho daqui a meses. Sei o que sentiu quando vi a minha mulher a passar aquelas portas duplas que nunca param de bater uma na outra. Sei o que sentiu quando olhei para uma pequena imagem onde deveria ser visível o meu filho e onde apenas se via nada.
Chorei! Chorei muito! Continuarei a chorar a criança que nunca viu a luz do dia...

Não me interessa o barco...