terça-feira, 21 de dezembro de 2004

"Nevoeiro"

Pessoa_2

Tenho andado a trabalhar sobre as obras de Pessoa. Quero constituir uma colecção completa das suas obras para posterior publicação em Catálogo. Não posso deixar de partilhar a (re)leitura de Mensagem. Que texto mais apropriado para o momento político que vivemos senão este?

"Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,
Define com perfil e ser
Este fulgor baço da terra
Que é Portugal a entristecer -
Brilho sem luz e sem arder,
Como o que o fogo-fátuo encerra.

Ninguém sabe que coisa quer.
Ninguém conhece que alma tem,
Nem o que é mal nem o que é bem.
(Que ânsia distante perto chora?)
Tudo é incerto e derradeiro.
Tudo é disperso, nada é inteiro.
Ó Portugal, hoje és Nevoeiro...

É a Hora!"

in Mensagem, Lisboa, Edições Ática, 1963, p. 104

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