segunda-feira, 17 de julho de 2006

Diário de um Pai

14.07.06
Segundo dia em casa. Eu estou muitíssimo cansado. Durmo pouco e mal. Afinal por cada vez que fecho o olho, deixo os ouvidos bem sintonizados na frequência de um múrmurio, um choro. Procuro ajudar a Catarina no que posso. Mas sinto que o que posso é tão pouco…
Foi com satisfação, mas com algum medo, que recebi a notícia da alta dos meninos e da mãmã. Foi como se durante toda a minha vida me estivesse a preparar para a sua chegada e, no fim, como aluno em exame final, deixasse que os nervos, a apreensão, o desassossego tomasse conta de todo o tempo despendido no estudo.
Começamos mal. O Francisco passou a noite toda com cólicas. Fizemos o que pudemos. Passei a noite sem dormir um único minuto, tal qual a Catarina que entre a tentativa de acalmar as dores do menino tinha de alimentar o Bernardo. Eu, mais uma vez, ía fazendo o que podia. Estava à sua inteira disposição. Se queria que pegasse no Francisco para alimentar o Bernardo, se queria que mudasse a fralda, se queria que desse suplemento, se queria que lhe fosse buscar água, bolachas, um pão com manteiga, um copo de leite, de um mimo, ali estava eu, cansado mas sempre com os olhos nela, porque se eu estava cansado, imaginasse o tormento dela. Com o rapaz nem o BébéGel resultou. Teve mesmo de se conseguir desenvencilhar sozinho por entre um mimo do Pai, um beijo da Mãe ou um carinho dos dois.
Acabou por conseguir aliviar a dor, dormindo depois que nem um justo. Nem a troca da fralda, que o deixa inquieto – assim como ao irmão – conseguiu retirar-lhe o prazer de poder fechar os olhos e descansar depois de tão dura luta. Acabou por me ensinar que precisamos de ser lutadores por princípio e obeteremos a recompensa dessa luta, mais cedo ou mais tarde.

15.07.06
A segunda noite foi um pouco melhor para mim, mas igualmente dura para a Catarina. Estamos em fase de adaptação. Os meninos a nós, nós aos meninos. Eles a aprenderem a sobreviver. Demoram imenso tempo na mama. Adormecem. Acordam e dão mais meia dúzia de chupadelas. Voltam a adormecer. Voltam a acordar. Falei sobre isso à Catarina. Percebo a fixação em querer estimular os peitos para que o leite se torne melhor. Percebo os benefícios de dar peito quer para os meninos, quer até para a Mãe. Mas isso não invalida que, creio eu, a Catarina necessite de um pouco de descanso. E com os meninos a mamarem daquela maneira, é impossível ela ter descanso.
Segui o conselho da Pediatra e pedi razoabilidade à Catarina, tentando concicliar essa necessidade e opção que é dar peito, as necessidades alimentares dos meninos e as necessidades de descanso da Catarina. Dá-se de mamar, mas após pouquíssimas insistências, passamos ao biberão onde eu já posso ajudar a Catarina a descansar um pouco mais. Depois, se quiser estimular o leite, tem a bomba, até para ter noção do leite que tem, outro dos problemas que parece estar a surgir.
Os meninos estão a perder peso. Ainda tudo dentro do normal, mas a perder peso. E eu desconfio que isso se deve a duas razões. A primeira porque o leite da Catarina ainda não deve ter subido ou é de fraca qualidade. A segunda porque os meninos estão muito tempo na mama, mas, na prática, mamam pouco. Insistiremos, pelo menos nesta fase, em tentar conciliar a alimentação dos meninos com o descanso da Mãe, que é tão importante até para os próprios meninos.

16.07.06
Hoje, Domingo, passamos melhor a noite. Já nos começamos a ambientar uns com os outros, a descobrir as manhas e patranhas, as necessidades, começamos a desconfiar do choro e a reconher-lhe uma forma, parece estar tudo no bom caminho. Ontem conseguimos descansar um pouco mais e isso também se reflecte na forma como cuidamos deles. Com mais tranquilidade todas as dificuldades são superadas mais facilmente, com maior destreza e maior paciência.
Ontem fizeram a primeira birra. Ainda pensámos que poderiam ser cólicas, mas cedo descobrimos que não eram, tinham os intestinos a funcionar bem. Depois acreditámos que não estavam satisfeitos. Mas também cedo percebemos que era impossível. Conclusão, mimo dos avós, dos tios e da Tia, do Pai, da Mãe, de toda a gente… A Catarina perdeu um pouco da paciência, esboçou um ralhar, metemo-los nas camas e, depois de algum choro, lá perceberam que só lhes restava dormir e descansar. O Bernardo lutava claramente contra o sono, as pestanas caiam pesadas e ele, num esforço hercúleo, levantava-as. Bem que a pediatra do Hospital e as enfermeiras diziam que os meninos já tinham manias. Eu não queria acreditar, mas ontem, de facto, confirmou-se.
Hoje de manhã tivemos o primeiro momento só nosso depois do nascimento das crianças. Foram só cinco minutos, mas o suficiente para poder mimar um pouco a Catarina. Deixei-a descansar. Dormia tão bem que, assim que os meninos acordaram, lhes fui dar biberão para não acordarem a Mãe. Primeiro o Bernardo, depois o Francisco. Quando ela abriu o olho, já os meninos estavam comidos e mudados e pudemos dedicarmo-nos um ao outro por um bocadito. Nada de especial, um simples beijo, um abraço, meia dúzia de palavras. Talvez estes pequenos momentos possam representar muitíssimo para nós e para os meninos, agora que eles nos irão ocupar grande parte do tempo.

2 comentários:

dacj_a disse...

Ola Muitos parabens aos 4 e muitas felicidades.Tb sou mãe de gemeas que ja têm 19 meses, vão ver que tudo vai correr bem, com um pouco de paciência e muito amor.

Anónimo disse...

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