quarta-feira, 22 de agosto de 2007

A propósito dos Discursos de Salazar

Andava aqui às voltas com os livros que irão constar do meu próximo catálogo e dei de caras com a primeira edição de uma obra fundamental para o conhecimento da história e da política nacional do século XX - os Discursos de António de Oliveira Salazar.
Um dos aspectos mais interessantes do meu negócio é o conseguir sentir - apesar de fragmentariamente - a maturidade cultural de quem nos procura. Uma das coisas que sempre me impressionou pela negativa é esta nossa constante tentativa de apagar um passado que não nos interessa, como se esse passado não fizesse, de algum modo, parte de nós. E este aspecto reflecte-se na incapacidade de valorizar justamente os livros que são marcos importantes da nossa história.
Por exemplo, obras importantes anti-semitas são coleccionadas por esse mundo inteiro por Judeus, valorizando-as, procurando-as, lendo-as ou coleccionando-as.
Aqui, os Discursos, são desvalorizados, pouco procurados, desinteressantes do ponto de vista do coleccionador quando, como reflexo de um pensamento político que nos comandou durante 40 anos, é uma das obras fundamentais da nossa história contemporânea. E o mesmo se passa com obras como as de Mário Soares, António de Spínola, etc.
Curioso no meio de tudo isto é que as obras mais valorizadas e procuradas continuam a centrar-se nos Descobrimentos, nos períodos ditos áureos da nossa história. Ora, a exaltação dos heróis e grandes feitos - veja-se a Exposição do Mundo Português de 1940, por exemplo - é precisamente uma das principais características da política "mental" do Estado Novo.
Pode ser que um dia deixemos de nos envergonhar...

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