quinta-feira, 13 de julho de 2006

Crónica de um Pai babado

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Escrevi o que se segue no dia seguinte ao nascimento dos meus meninos. Entretanto já estão em casa. Chegaram há pouco. Têm-me ocupado o tempo e o espaço mental, todo, mesmo todo. Mas, mesmo cansado, é com um sorriso nos lábios que me ponho em pé com pouquíssimas forças e os amparo.

Acordei agora ainda mal refeito da surpresa de ontem. Estou ainda num estado de euforia que me impede de estar muito tempo parado. Sento-me aqui um pouco para vos contar as peripécias do parto.
Aproximadamente às 22h do dia 9 de Julho, depois de calmamente termos visto a Itália a vencer a França na final do campeonato do mundo, a Catarina começa a queixar-se da região lombar. Por várias vezes a tinha visto a falar com outras mães perguntando-lhes o que seria uma contracção, ao que elas respondiam, depois de enormes explicações, que ela iria saber. Não se enganaram muito. Apesar das primeiras dúvidas, até porque não estava à espera, cedo ela percebeu do que se tratava. Mantive a calma, permanecendo sempre ao seu lado e, sem ela o saber, a controlar o espaço de tempo entre cada uma.
A visão do que ela sentia, confesso, foi um pouco assustadora. Contorcia-se, queixava-se e, na primeira mais forte, chorou. Quando a vi de lágrimas nos olhos fiquei mesmo sem saber o que fazer. Mas cedo percebi que nada haveria a fazer senão permanecer ali. Às vezes na brincadeira com os amigos, costumo usar uma expressão com que a dizer que nada farei para o ajudar – dou-te apoio moral. Na verdade, a impotência com que me deparei, obrigou-me a dar outro significado à expresão, porque, de facto, é a única coisa que se pode fazer naquele momento.
Depois de ter aparecido a minha sogra – estava preocupadíssima com o nascimento dos primeiros netos – as contracções foram apertando mais, até chegar, já no carro, a 5 minutos de intervalo. Pensei, bom, não há hipótese, os meninos vão mesmo nascer hoje.
Chegados ao Hospital fez o CTG e o obstetra disse-lhe que ia demorar. Apesar de estar com contracções, elas eram irregulares e ainda não tinha sequer começado a fazer a dilatação, nem as águas tinham rebentado. Deixaram-me ficar ao seu lado o tempo todo, e eu fiquei, óbvio.
Durante a noite apenas foram uma ou duas contracções, nada de especial. Passei a noite toda em claro, apenas dormitando uma horita. De manhã nova equipa de médicos. Chegou, observou e esperou. Cerca das 11h, já com as contracções novamente a apertarem, fizeram uma ecografia e descobriram que o Bernardo estava atravessado impedindo que, quer ele, quer o irmão nascessem. Depois de estar até às 13h com dores horrorosas, pedindo-me que ficasse junto dela, chorosa, correram comigo para lhe fazerem a cesariana. Aproveitei a sugestão das enfermeiras e fui até casa, tomei um banho e almocei.
Às 13h38 nascia o Francisco com 2585 g e às 13h39 nascia o Bernardo com 2650 g.
Tal como me tinham pedido, voltei ao Hospital por volta das 14h10. Cinco minutos depois estava junto dos três, envolto numa bata azul que conservo, sei lá porquê, mas que conservo.
Mesmo impelido pelo enorme impulso de ver pela primeira vez os meus filhotes, movido pela ansiedade de os tocar, ver, olhar, sentir, tive ainda o descernimento de, em primeiro lugar, dirigir-me à Mãmã. Foi ela que teve todo o trabalho, foi ela que passou pelas dores, foi ela que lhes deu vida, que os alimentou durante 37 semanas, que os acariciou, que os sentiu, que ofereceu o seu corpo para que outros dois corpos conhecessem neste dia a luz do dia. Pedi desculpa às enfermeiras que me esperavam junto dos meninos e virei-me para a Catarina simplesmente olhando-a ternamente como que dizendo com os olhos aquilo que os lábios jamais serão capazes de dizer. Beijei-a, acariciei-lhe o rosto com as costas da mão e voltei a beijá-la na testa. Perguntei-lhe depois como se sentia, ao que respondeu com olhar feliz “tinha já outros dois”.
Como a compreendi e, confesso, como a invejei. Já várias pessoas me ouviram dizer que o dom de ser mulher, de poder gerar uma vida dentro de si, é realmente um privilégio só possível a elas. Mas ontem VI o quanto isso é verdade. E ainda compreendi melhor essa graça quando a enfermeira colocou o Francisco a mamar pela primeira vez enquanto eu segurava no Bernardo no meu colo. A sua expressão de felicidade era tão grande que não cabia na sala, nem no Hospital e, suspeito, nem no mundo. E novamente a invejei…
Estive com os três até às oito e qualquer coisa, completamente esgotado, mas com forças ainda para um jantar em família que a ocasião merecia, quase que a pensar se as minhas forças eram poucas, imaginasse as da Catarina, ganhando alento para continuar mais um pouco.
Estive sempre a seu lado e, apesar de dizer e continuar a achar que o parto, de facto, não é para homens, mas para mulheres e pessoal especializado, quando a Catarina, cheia de dores me pediu para não sair dali, seria incapaz de sair por minha própria vontade. Felizmente, para o meu coraçãozinho fraco, no Hospital S. Francisco Xavier não deixam assistir às cesarianas.
Sou Pai. Existirá maior felicidade no mundo? Hoje posso dizer que não.

1 comentário:

tasnafila disse...

Carissimo Nuno:

Já te deixei os meus parabéns por outra via mas nunca são demais.

Desejo-vos muitas felicidades para a nova familia.

Abraço.

Filipe (tasnafila)