segunda-feira, 20 de novembro de 2006

Diário de um Pai - A primeira papa

domingo. estava já tudo preparado para a primeira papa. foi um pouco mais cedo do que o marcado pela pediatra para que eu pudesse estar lá. queria estar lá. estive lá. mais uma fase da vida dos meninos que passa por nós sem que demos muita conta. olhamos para o lado e mais um milímetro passou.
de manhã à Missa na minha Paróquia de origem. chegados a casa preparámos tudo para o grande acontecimento. a Mamã insistiu com a máquina fotográfica. tirou uma foto. eu e o "Quico". começou bem. agarrou-se à papa com unhas e dentes. literalmente. preciso se apurar a técnica de lhe segurar na mão para não ir ao encontro da colher. "Come a papa, Joana come a papa...". não. não cantei. mas apeteceu. lembrei-me das figuras ridículas dos pais e dos traumas infatis.
o Bernardo ficou com a Mamã. comeu melhor que o maninho. o Francisco quis comer papa como mama biberon. não resulta. claro. choro aqui e ali apenas calado com a rolha da tetina que de vez em quando se metia para o ir habituando à mudança. comeram tudo. a papa e o resto do biberon. hoje há mais do mesmo. mas não estarei lá. infelizmente. a Mamã ficará com essa memória para si. é desvantagem esta de estar a trabalhar. tem de ser.
penso muitas vezes na desvantagem de ser Pai. para as mulheres é processo biológico esse o da ligação às crianças. aos seus filhos que viram nascer. aos seus filhos que sentiram crescer. aos seus filhos que lhes custou a fazer nascer. nós. ao contrário. é processo mental que muitas mulheres também esquecem. para nós a relação com os filhos é criada como se fosse uma outra qualquer relação humana. é uma interiorização de que aqueles e não outros são. de facto. nossos filhos. e pensar que aqueles são os nossos filhos não é fácil. principalmente quando não possuímos a graça de os poder amamentar. de os poder carregar no nosso ventre. de os poder trazer ao mundo. por isso é tão importante para mim estar lá nestes pequenos momentos. foi a forma que encontrei de colmatar a falha de não ser mulher. parêntisis. não interpretar mal. fim de parêntisis. e assim vou criando a minha relação com eles de Pai. de figura importante na vida deles. mas hoje não estarei lá. lamento.
estou certo que quando crescerem. quando adquirirem outras capacidades humanas que hoje não possuem. poderão até olhar para o Pai como uma figura igualmente importante na sua vida. ou até mais. mas agora. nesta fase. estou claramente em desvantagem. não estou lá. lamento.

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