quarta-feira, 22 de novembro de 2006

Recordar a minha Avó

- Parabéns Avó.
hoje comemora-se o nascimento de minha Mãe.
- Parabéns Avó.
no caminho para o escritório lembrei-me de si. tenho saudade. lembra-se dos bolos que comi. das massas que mexi. dos brinquedos que me deu. do mimo e atenção que me dedicou? eu lembro.
hoje olho para a sua filha. minha Mãe. Avó dos meus filhos. e a minha esperteza de criança pedindo-lhe o que a sua filha não me queria dar. a Avó dava. às escondidas para que a sua filha só visse depois de eu já ter o brinquedo na mão.
- Parabéns Avó.
faz hoje cinquenta e dois anos que a Avó deu à luz sua filha. minha Mãe. e todo o seu percurso de vida feito de enxadas. terra cavada. vinda para Lisboa. tabuleiros de bolos. massas. ovos. cremes. subir e descer aquelas escadas da fábrica de bolos Castanheira. oferecer-me a chave do frigorífico para tirar umas fatias de torta. aquela torta que eu mais gostava. os estrunfes. os legos. os carrinhos. o dinheiro no Natal que escrupulosamente colocava num envelope na árvore lá de casa. os almoços. os jantares nos restaurantes. os copos de vinho que nunca dispensou. os risos que me provocou. as dores por que passou enfiada dias. meses. em camas fechadas ao mundo. encarceradas no espectáculo da dor. do sofrimento. enquanto senhoras de branco. homens de branco. tudo de branco. se passeavam por entre corredores de branco imunes. às vezes até indiferentes a essa dor. as operações. as melhoras. as pioras. por fim uma vida nova. um renascimento. para afinal o seu percurso de vida terminar como o de toda a gente. sete palmos debaixo de terra. choro. dor. tenho saudade.
- Parabéns Avó.
hoje sua filha. minha Mãe. é a Avó. e eu sua filha. os meus filhos vão crescendo com sua filha a querer ser a Avó. eu a querer ser a sua filha. os mesmos bonecos que eu não quero dar. escondidos de mim até se revelarem nas mãozinhas que seguram alegres pela conquista. lembro-me de mim. não posso ralhar. tenho saudade.
- Parabéns Avó.
queria que estivesse aqui. para dar os brinquedos que eu não quero dar. a somar aos brinquedos que sua filha. minha Mãe dá. dariam muitos brinquedos. muitos envelopes na árvore lá de casa. e muita alegria. tenho saudade Avó. tenho saudade.

2 comentários:

Maria disse...

Fiquei com um nó na garganta. Parabéns pelo texto e pelos sentimentos transmitidos. Também me faz recordar e sentir saudade. Parabéns às avós e às mães. Sempre!

Marlene disse...

Ups... parece que o blog dos priminhos "renasceu" e ainda bem!!! O da Matilde continua bem vivaço e recomenda-se!!! heheh

Estive a actualizar-me e vi que os teus filhotes estão óptimos! Reparei na barra.. Já tê 4 meses e meio??? Como é que é possível!!! Realmente o tempo passa depressa de mais... E por vezes o que fica é o sabor da saudade!!!

Bjs para todos!!!

Marlene e Matilde